ATA DA DÉCIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 18.05.1989.

 


Aos dezoito dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Quarta Sessão Solene da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Prêmio Artístico “Lupicínio Rodrigues” ao Compositor Wilson Ney dos Santos. Às dezessete horas e trinta e nove minutos, constatada a existência de “quorum” o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes da Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Sr. José Carlos Mello D’Ávila, representando o Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Compositor Wilson Ney dos Santos, Homenageado; Srª. Ana Maria dos Santos, Esposa do Homenageado; Ver. Wilton Araújo; Ver. Adroaldo Correa, 2º e 3º Secretários da Casa. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento a lusivo à solenidade, informando que a presente homenagem foi requerida pelo ex-Ver. Kenny Braga, e conceder a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Wilton Araújo, em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PL, PTB e PDS, falou de sua satisfação por participar da presente homenagem, dizendo ser ela o reconhecimento da Cidade de Porto Alegre a quem tanto fez pelo nosso samba. Discorreu sobre a carreira do Compositor Wilson Ney dos Santos, destacando sua capacidade de, através da música, sensibilizar o coração dos porto-alegrenses. Após, o Sr. Presidente registrou a presença, no Plenário, de Lupicínio Rodrigues Júnior. O Ver. Adroaldo Correa, em nome das Bancadas do PT e do PSB, comentou a obra poética, cultural e musical do Homenageado. Analisou a importância da expressão popular no samba de Wilson Ney dos Santos, declarando ser S. Sa. um exemplo da força dos músicos da nossa Cidade dentro do difícil mercado musical brasileiro. A seguir, o Sr. Presidente registrou a presença, no Plenário, de diversos parentes e amigos do Homenageado, entregando a S. Sa. correspondência recebida pela Casa, relativa a presente solenidade. Ainda, convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega do Prêmio Artístico “Lupicínio Rodrigues” ao Compositor Wilson Ney dos Santos, concedendo a palavra a S. Sa., que agradeceu o Prêmio recebido, interpretando canções da música popular brasileira. Em prosseguimento, o Sr. Presidente convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e vinte e um minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Wilton Araújo. Do que eu, Wilton Araújo, 2º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 


O SR. PRESIDENTE: Esta homenagem que a Câmara presta neste momento, foi requerida pelo Vereador Kenny Braga e aprovada por unanimidade por esta Casa, o prêmio artístico Lupicínio Rodrigues ao compositor, compositor que todos nós conhecemos, e cantor. Eu tenho aqui um discurso, onde consta a data de nascimento 1946, mas parece que ele nasceu em 1956, ao seu lado a nossa bela amiga, esposa do nosso homenageado, mas amiga de todos nós. Homenageando ao Wilson Ney nós estamos hoje homenageando a esposa, os filhos. Nós aqui presentes, mas a Cidade um pouco distante, talvez até ouvindo pelas nossas emissoras de rádio as tuas canções que todos nós, que todo o País ouve. Canções que não tem quem não goste.

Então, Wilson Ney, cobrador de ônibus, deve ter sido um dos melhores cobradores. Não deve ter deixado mal nunca a empresa, igual a ele é difícil. Neste momento estou muito feliz por estar presidindo os trabalhos da Casa, como Presidente da Casa, mas pelo que eu conheço e pelo que todos nós conhecemos dá para visualizar aqui as pessoas e identificar. O carinho que eu tenho não é diferente dos Senhores e das Senhoras. Aqui diz assim, “foi contínuo, trabalhou em um posto de gasolina”. Acho que o pessoal ia botar gasolina no carro só porque o Wilson Ney era bombeiro. Imagino, porque muitos de nós quando vamos em um restaurante, às vezes, não é pelo restaurante, nós vamos pelo garçom que é amigo. Eu tenho um, ele não sabe até que eu sou tão amigo dele como estou colocando aqui agora. Mas é assim, tu vai no clube é porque estão lá aqueles amigos; tu vai na escola de samba é porque estão lá aqueles amigos, termina a gente indo em duas, três, quatro, cinco escolas, porque de repente aqueles amigos que estavam na primeira escola onde nós iniciamos, se dividiram. Não é isso, Nenê, não é assim?

Então, Wilson Ney, não precisa te dizer que tu tens que continuar assim, o amor que nós temos por ti, o carinho. Como Presidente da Casa, abrindo os trabalhos da presente Sessão, passarei a palavra ao Ver. Wilton Araújo que falará pela Bancada do PDR, do PL, do PTB, PDS e PMDB. Logo após falará o Ver. Adroaldo Corrêa que falará pela Bancada do PT.

Presente nesta sessão também o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI (Questão de Ordem): Pediria ao Ver. Adroaldo Corrêa que se manifestasse igualmente em nome da Bancada do Partido Socialista.

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Wilton Araújo pelas Bancadas do PDT, PMDB, PL, PTB e PDS.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Senhores, senhoras, é com imenso prazer que participo da homenagem que a cidade de Porto Alegre faz, através de seus Vereadores, ao compositor e cantor Wilson Ney. E, ao falar neste amigo, tenho a certeza de que todos os presentes lembram da bateria dos Imperadores do Samba, estourando na Avenida com “Convite ao Povo”, e seu antológico estribilho “Povo Meu”.

Pois hoje, o seu povo reúne-se para entregar-lhe o título maior da música que é o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues. Um resgate que todos nós devíamos a quem iluminou tantos carnavais da Cidade.

Falar de Wilson Ney é ouvir o som forte dos sambas-enredos, o povão cantando junto com os Acadêmicos da Orgia, a Beija-flor do Sul, o Estado Maior da Restinga. E lembrar a avenida entusiasmada com a “Festa do Gantuá”, “No Mundo Encantado Das Ilusões”, “Carnaval Alegria Do Povo”, “O Alegre Sonho De Um Garoto Que Cresceu”, “Hoje, o Astro Sou Eu”.

Aproveitando a música...o Astro é Wilson Ney. Os passistas, porta-bandeiras, mestres-salas que desfilaram ao som das letras bonitas, este povo que está no Plenário, todos nós integramos hoje, uma democrática escola de samba, sem cores ou paixões. Somos figurantes de um enredo especial, inteiramente dedicado ao moço que nasceu na Vila Santa Luzia, Filho de Dona Marina e de Onório dos Santos. O acordeonista que iniciou na música tocando ao lado de seus irmãos Ênio e Cláudio.

No Conjunto Ritmo Plaza, que formou com amigos que moravam na Chácara das Pedras, Wilson Ney começava sua trajetória romântica. Fazia “mensagens” para suas namoradas e para as dos amigos. Os recados às musas viraram músicas famosas como Fogo de Palha, Eu e Você, Como te Esquecer e tantas outras, imortalizadas por cantores como Antonio Lemos, Maria Helena, Elemar Santos, Dominguinhos do Estácio, Neguinho da Beija-flor, Carlos Medina.

São músicas que colocam Wilson Ney na primeira linha dos compositores populares, mostrando que a “Escola” de Lupicínio Rodrigues está viva e continua produzindo grandes valores. Quem assistiu o show “Eu e Você”, que mostrou os vinte e cinco alunos de carreira de Ney, sabe do que estamos falando.

Mas não posso deixar de ressaltar que é na alegria da maior festa popular brasileira, que este compositor mostra toda sua força. Apesar da situação econômica, dos baixos salários, ninguém segura o grito do povo quando o samba é de Wilson Ney. É neste momento que o compositor mostra a que veio, e suas raízes mais profundas aparecem em cada linha de um samba-enredo. Ele sabe como chegar ao coração do povo, e fazer com que a alegria supere toda a frustração, e transforme cada pessoa em alegre carnavalesco.

Esta homenagem da Cidade é um agradecimento ao cidadão e artista Wilson Ney, por ter permanecido no difícil mercado de arte de Porto Alegre, perto dos seus amigos, dos seus afetos e oferecendo, a todos nós, a garantia de carnavais cada vez melhores. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convido Lupicínio Rodrigues Filho para fazer parte do Plenário junto com os companheiros, o representante dos Imperadores, o Delmar, enfim, todos os representantes das Entidades que nos ajudaram a decidir a homenagem a este grande Compositor. Nós todos estamos num bolo só, como se diz, com perdão da expressão, a Cidade e, principalmente, as nossas Entidades Carnavalescas.

Com a palavra, o Ver. Adroaldo Corrêa. O Vereador falará pelo PT e pelo PSB.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Senhores e Senhoras, o improviso que nós faremos aqui tem muito a ver com a produção poética, cultural, musical de Wilson Ney que recebe, nesta Sessão Solene, o Prêmio Artístico “Lupicínio Rodrigues”, porque, no entender deste Vereador, o improviso é mais ou mais ou menos a forma com que o poeta trabalha e constrói a unidade particular da sua vivência, do seu coração, para expressá-la naquilo que vai-se tornar mais do que o particular de cada um, mas o universal em todos que ouvem, dançam, e sentem a sua produção. E não escrevemos nada a respeito de Wilson Ney porque sentíamos que assim poderíamos tentar corresponder melhor a emoção que sentimos ao ouvir a sua produção, ao entender a riqueza da sua expressão, não que isto seja mais digno ou menos digno do que quem escreve. Acho que a expressão popular, a expressão da manifestação cultural que se vê presente no samba, na canção do poema de Wilson Ney é o que se pode considerar hoje no Rio Grande do Sul como a expressão maior, para fugir ao chavão, mas repetindo, do poeta maior da música popular no Rio Grande do Sul e se tornando, a partir deste particular, gaúcho, um dos poetas maiores da música popular brasileira. E a emoção que conta, neste momento, junto a este improviso, também é por ser que o meu povo, do qual escolhi ser vizinho, que é a Escola Imperadores do Samba, uma das principais, que mais utilizaram até como um grito de guerra e de resistência canções do amigo e poeta Wilson Ney. Povo meu, assim como Fogo de Palha é uma referência permanente nas quadras de samba onde a resistência cultural acontece na nossa Cidade e dela se espalha, não apenas no Carnaval, não apenas no disco, mas em todas as rodas, em todos os momentos em que a música e o poema musicado é lembrado na nossa Cidade. A ponte que faz este elemento, o Prêmio e o nome do Prêmio com o poema vivo, hoje, na música de Wilson Ney, no nosso entender, é o mais expressivo em que constrói o arco de um passado de referências também no mesmo nível e na mesma altitude artística de Lupicínio Rodrigues, também expressão maior da música popular brasileira e poeta, com a atualidade e a possibilidade de ver que o particular no Rio Grande do Sul tem inserção na cultura popular brasileira na sua forma de expressão mais rica e mais generalizada no meio do povo que é a música. Esta música, que pelo instrumento mais democrático que poderia ser e ainda não é, que é o rádio, chega a todos, não pelo fácil consumo, mas pela fácil audiência e fácil captação pelos seus aficcionados e que constrói a unidade mais ampla com o território brasileiro.

A música de Wilson que vai encontrar espaço nos cartazes nacionais que a defendem e que vem solicitando a produção de Wilson Ney nestes dez anos de produção, também para fora de nossas fronteiras, é que faz no nosso entendimento não a justiça que esta Câmara aprova o prêmio a sua produção, mas o reconhecimento de fato de que neste Estado permanece uma das referências e se constrói aceleradamente uma consciência de que a produção artística não tem a fronteira que deve pesar na consciência de quem tenta produzir, mas que é universal. Não é porque não temos fortes fábricas de discos, não é porque sofremos a influência cultural de outras produções que não temos a condição de fazer a nossa produção. Wilson Ney é um símbolo da possibilidade de produzir localmente num plano a partir do específico e traduzi-la universalmente. Por isto quisemos fazer de improviso e tentar, correspondendo a veia do poeta, a possibilidade de homenagear não só a sua produção, mas a referência cultural, a referência inclusive racial que sofre a violência ao se expressar, ao tentar se emancipar, construir neste que é um discurso de homenagem em nome do Partido dos Trabalhadores, em nome do Partido Socialista Brasileiro um gesto de carinho a mais além desta homenagem. Eram as palavras que nós gostaríamos de dizer. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Presente entre nós mais do que irmão dos que nós mesmos do Wilson Ney, o José Carlos dos Santos, irmão do Wilson Ney, o Ênio dos Santos também presente, Cláudio Ney irmão presente também, a Tereza Masson, cunhada também presente. Eu perguntava no início para a Ana Maria, da Viviane, da Veridiana também e o Wilson Ney Junior. Estão no colégio não deu para vir, assim como vários amigos, irmãos do Wilson Ney, por problemas de horários, serviços, também. Tu deves estar sentindo a mesma coisa que nós todos estamos sentindo, suor nas mãos. É uma Sessão Solene diferente, quem esteve no Estádio do Internacional ontem...Mas como esta Casa a gente tem que considerar como se nós estivéssemos no Estádio do Internacional, lotado, não é? Em vez do Internacional, ou o Grêmio, ou enfim, ou outro Clube entrando em cancha, como entrou ontem o Internacional, esse é o carinho que merecia e merece o nosso Wilson Ney amigo. Nós recebemos várias correspondências como o Reitor da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul e de outras autoridades que eu passo às suas mãos. Também da Brigada Militar, de seu comandante, que, por motivos particulares, não puderam comparecer. Nós estamos considerando presentes, assim como todos esses amigos nossos que estão trabalhando, mas devem estar cantando lá as tuas músicas. E agora nós, e de pé, nós vamos entregar a correspondência da Cidade, de todos aqueles que aqui não puderam estar nesse momento. A Câmara Municipal de Porto Alegre, nos termos da Resolução nº 810, de 24.10.1984, confere o prêmio artístico Lupicínio Rodrigues, ao nosso Wilson Ney dos Santos, homenagem pelos 25 anos de serviço da música popular e pela sua valiosa para o enriquecimento das artes nacionais. Assinado: este Vereador e o Ver. Lauro Hagemann.

(O Sr. Presidente solicita a todos os presentes que fiquem de pé para assistirem à entrega do Diploma.)

 

(O Sr. Presidente passa às mãos do homenageado, Sr. Wilson Ney dos Santos, o Diploma Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o nosso homenageado, Sr. Wilson Ney dos Santos.

 

O SR. WILSON NEY DOS SANTOS: Gostaria de agradecer ao Presidente da Câmara, Ver. Valdir Fraga, ao grande amigo Kenny Braga pela lembrança desta homenagem, e a todos os Vereadores da Casa. Quero agradecer em especial a toda a minha família, da qual alguns estão presentes como meu mano Ênio dos Santos; o mano José Carlos Calata, o mano Cláudio Ney; vejo lá no fundo a minha prima Dina, meu primo também, e a todos os meus amigos que aqui estão presentes, todas as escolas, em especial e do coração, Imperadores do Samba, todos são meus amigos por acreditarem no meu trabalho não me deixando desistir nunca. Sinto-me muito orgulhoso de estar aqui recebendo esse prêmio pelo reconhecimento do meu trabalho. Eu gostaria que esse reconhecimento fosse estendido a todos os nossos músicos, cantores e compositores que lutam pela nossa música popular gaúcha. Temos muitos valores que precisam da força e do apoio dos nossos meios de comunicação. A coisa, devagar, está melhorando; nós já sentimos que o nosso trabalho começa a ser reconhecido. Precisamos mais divulgação, pois no centro do País as pessoas desconhecem o nosso trabalho aqui no Sul e se admiram muito quando vêm a Porto Alegre e tomam contato com os nossos músicos e compositores. Por isso, eu peço: olhem para o nosso pessoal, principalmente para a nossa comunidade carnavalesca, da qual eu faço parte e me orgulho muito disso. Gostaria de falar muito mais, mas como sou de pouco papo, gostaria de falar cantando algumas músicas para vocês. Meu especial agradecimento a Lupicínio Rodrigues, que está lá, no céu, e a seu filho maravilhoso Lupinho, que está presente aqui na Casa. Muito obrigado. (Palmas.)

Gostaria de chamar meu mano, Ênio dos Santos, para me acompanhar.

(Não revisto pelo orador.)

 

(Canta músicas e toca violão, acompanhado de seu irmão, no cavaquinho.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Wilson cantou quatro músicas, a primeira tinha uma frase que dizia “vamos fazer um trato”, a segunda se referia a “como foi sincero”. Então, vamos terminar esta reunião dizendo que não sei se estou certo, mas quero fazer um trato contigo, e o trato é que continues sempre como tens sido até hoje e como foi a homenagem desta Casa, em nome da Cidade, e já estamos roxos de saudades, com razão ou sem razão. Um abraço de todos nós.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h21min.)

 

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